sexta-feira, 27 de maio de 2016

das iluminações...

.
"luz que pulsa
vibra
me comove 
luz tímida 
cuja linha passa pelo corpo
e meus mudos lábios dançam
promovem louco espanto 
enquanto atônito 
chamo a luz 
de minha"

Julio Carvalho
.

.

revisitando
a
poética
humana
das 
luzes
e
sombras
.............................................................

devoção

calma
tá na alma
de quem espera
e que gosta 
e não desespera
calma
é um precipício 
onde o ofício
da alma
se enrosca 
sem delicias
e com ausências 
de esperança
.............................................................

e o que me sobra 
é falar comigo
com meu espírito e com 
minha fumaça:
as nuvens
de noite
são 
claras
.............................................................

sabem aquelas pequenas 
tristezas?
tem gente e poesia
que salvam
.............................................................

meticuloso
meu prazer não tem medida
me diz seu nome
se no caso o destino se mudar
ou então que se destrave
longe
e se mude 
de lugar
eu volto em cima do rastro
da semana reticente
condeno a bisbilhotice
e mando
uma carta cativante
com um nome maiusculoso
pra evitar engano

(adaptado)


.............................................................

quinta-feira, 26 de maio de 2016

dos subsolos...

.
"Pois chegamos ao ponto de quase achar que a verdadeira “vida viva” é um trabalho,
quase um emprego, e todos nós no íntimo pensamos que nos livros é melhor. 
E por que às vezes ficamos irrequietos, inventamos caprichos? 
E o que pedimos? Nós mesmos não sabemos. 
Nós mesmos nos sentiremos pior se nossos pedidos delirantes forem atendidos.
Pois bem, façam uma experiência, deem-nos, por exemplo, mais independência,
desamarrem as mãos de qualquer um de nós, ampliem nossa esfera de ação, relaxem a tutela e nós...
eu lhes asseguro: nós imediatamente pediremos a volta da tutela"

Memórias do Subsolo - Fiódor Dostoiévsk
,

.

Haikais de Outono

todo dia pela minha vida
o sangue flui
eu sei e amo
até o fim

não existe canção 
em boca fechada
a música precisa de uma 
voz
qualquer
e
qualquer
canto morre
no silêncio

um sol amarelo
sob a sombra de uma nuvem 
perde sua cor

cansado de esperar as flores
deito sobre o imaginário 
e durmo

aguardo um voo
sem data marcada
pássaros selvagens
durante os dias

humor cinzento
dias de tédio 
mesmo com o sol 
visível

calmaria e risos
que cessam
na monotonia

move-te nuvem
meu cansaço 
é o vento do outono

lento dia:
o sol
atrás das nuvens

uma nuvem
no mesmo lugar
que o céu de ontem

cérebro & coração
muitos voos
entre esses
dois pontos
mas muitas vezes
o lugar é único

a solidão
é uma mala
sem alças
e vazia
.

dos revistos...

.
"…vez ou outra, me vejo querendo retocar demais.
esses dias, venho buscando o imperfeito,
mas é muito difícil."

.
Olhos - Foto de Rick Barneschi







































.......................................................

#‎repost‬

do jeito jeans
eu tiro as calças
pra desbotar minha cara
de vergonha
.......................................................

#‎repost‬ ‪#‎revisto‬

é porque as pequenas coisas
pesam muito mais
e sob o tapete
um rolo-compressor.
.......................................................

#‎repost‬ ‪#‎revisto‬

desvio
ainda na minha vida
não há amor que valha
navalha
ainda a pena
seca
não consegue
escrever
tudo
como deve ser 
lido
como deve ter
sido
como deve ser
sólido
incômodo deve ser
o insensível
sem ter 
tido
.......................................................

#‎repost‬ ‪#‎revisto‬

a pele
é um órgão público
(todo mundo vê)
um vermelho
quente
com as bordas
marcadas
e sinais
formando continentes
desenhos próprios
com desejos súbitos
a pele
é um todo incômodo
outro país
uma febre
até um outro
encontro
.......................................................

(longos pensamentos para noites muito curtas)
.......................................................

‪#‎repost‬

eu vivo com uma sensação
uma espécie de ódio
mas é um ódio
que não mata
nem cura
.......................................................

‪#‎repost‬ ‪#‎revisto‬

A FALTA QUE UMA FLOR ME FAZ

não quero mais pingüins na imaginação
nem eternos verões a pino
não quero passar vergonha em fila de banco
nem ficar branco de susto dentro do cinema
e engasgar com a pipoca
que anda um absurdo de tão cara
(já viu o preço do refrigerante de zero caloria?)
não quero mais ouvir falar em crise
e procurar saber porque há tanta falta de flores
nas floriculturas aqui perto de casa
(há falta de flores em todo lugar nessas urbanidades)
não quero mais ter que pensar em dinheiro
fazendo os cálculos já para o mês seguinte
não quero ter muito requinte, 
mas também não quero ficar sem algumas preciosidades: 
o tato e a boca querem conforto vezenquando.
não quero ficar sem meus livros
não quero perder algo sem aviso
não quero ficar sozinho
não quero brigar com meu vizinho
quero uma vida em paz
e um dia ainda se eu puder
quero é poder viver bem tranqüilo com os pingüins,
os verões, os bancos de praça ou não,
os cinemas, a pipoca, o refrigerante de caloria zero,
as minhas crises e outras, as flores e as floriculturas,
o dinheiro e os cálculos, os poucos requintes e as preciosidades,
os livros, os avisos, os vizinhos, a solidão,
o tato e a boca fechada porque já falei e escrevi muito.
tenham uma boa noite e passar bem.
.......................................................

#‎repost‬ ‪#‎revisto‬

entendem-se voltas e recomeços
como todas as outras coisas
que andam juntas e agarradas 
entendo melhor
a vida em círculos
do que viver pelos quadrados
chorando
pelos
cantos
.......................................................

‪#‎repost‬ ‪#‎revisto‬

eu sou
alguém
que tem
que segurar
as sensibilidades
com muito cuidado
pelo lado de dentro
e as paredes que me contém
são de letras fáceis e de coisas leves
nem as aves voam tão alto assim não
seguro tudo
pra não cair de maduro
sou o tudo muito
muito eu nós muita voz muito eles
eles todos que ouvem pelos buracos
pelos cacos e outros retratos de ponta
não sou o que desaponta e o que tem os sentidos
roubados de livros e arestas de ruas
e das coisas atrás das paredes
e das redes sociais online
conectadas muito fora da linha
como o desalinho das nossas naus sem rumo
nav(el)egantemente em mares sem sentido
com suas marés instáveis
de fluxo sanguíneo tão vermelho
quanto coagulado de sensações tão juntas
que o espanto é pouco pra uma definição completa
da linha direta que une
em mim a poesia
música 
inspiração
e conexão
.......................................................

#‎repost‬ ‪#‎revisto

eu não tenho paciência para certos cálculos sentimentais
.......................................................

‪#‎repost‬

eu me perco todo se não escrevo
eu viro lâminas
eu corto
.......................................................

#‎repost‬

difícil sina de poeta amar sem amar
.......................................................

#‎repost‬ ‪#‎revisto

ninguém é de acém
além de carne
é humano
depois que morre
nem sente
que só o verme
é que percebe
quem já foi gente
.......................................................

#‎repost‬ ‪#‎revisto‬

e ninguém nunca viu
o diabo que te carregue
que é só mais um insulto
e que se fosse de verdade
era tanto diabo andando
que nem ia mais caber
tanto inferno junto
dentro da mesma cidade
.......................................................

#‎repost‬ ‪#‎revisto‬

depois do corte
só o que move
sangra
a dor 
é um conselho
.......................................................

‪#‎repost‬ ‪#‎revisto‬

todo som
mesmo que não,
entra
o ouvido não tem pálpebras
– não tem como evitar o ruído
tudo fala demais
o silêncio anda muito caro
o silêncio custa 
uma magoa
.......................................................

#‎repost‬ ‪#‎revisto‬

.doc I

cansado do sério
do estéril
do seco
engolir a seco
o sono
os relatos
dos outros
e andar
olhando para frente
inventando vontade
inventando uma força
qualquer
inventando coisa
sem fantasia
o seco nos olhos não tem lágrima que seja
suficiente
e nem nada que venha de dentro
inunda e completa
somente
silêncio
e nos acasos colados nos postes – cartazes
grudados no meio da rua
o tempo é roubado
impiedosamente
a cor é cinza

.doc II 

alguém sabe como deslizar
ou desinfetar a paixão?

.doc III

surreal:
a parede da cozinha desabou
sozinha
– a solidão vem minando
até as paredes
.......................................................

#‎repost‬ ‪#‎revisto

deus não cobra
e não dá asa a cobra
ou
cósmico
você quer quase quasar
quase casar comigo?
e então
porquê esse torto no canto da página?
perceba:
as palavras são brincadeira
vem 
da arquitetura dessa arte escrita que te atura
como
uma pedra ao lado da imagem

.......................................................

sexta-feira, 20 de maio de 2016

dos abissais...

.
"aquilo que não cabia
e passou a caber
como se sabia?"
Yassu Noguchi
.

Foto de Rick Barneschi










































.......................................................

meio olho

a porta atrás da fumaça 
o chão molhado
o céu nublado 
a música de bolso
.......................................................

#‎dialogos‬

- se for para melhorar 
todo sacrifício é válido
- não chamo de sacrifício 
o que pode ser feito para melhorar
sacrifício é quando não tem melhora
ou não tem volta
.......................................................

certos pensamentos
desprezados
para que não se alimentem
falsos
monstros
.......................................................

no centro do meu corpo*
irrompe um precipício
com duas bordas que se tornam 
estranhas uma à outra
sobre uma das bordas
morte
sobre outra
vida

(o abismo não nos divide
o abismo nos cerca)

sem ter água nas mãos
fraco eu firmei razão
atirei cantos e poesia aos ventos
deixo uma metade minha 
ser devorada pelo mundo
salvo-me com a outra metade
às vezes
aqui o desespero
ali a coragem
considero
morrer apenas o estritamente necessário
sem ultrapassar a medida
renascer o tanto preciso 
a partir do resto que se preservou
outros também sabem dividir
é verdade
mas apenas em corpo e sussurros partidos
e eu
em corpo e poesia

*adaptado de vários poemas de Wislawa Szymborska
.......................................................
a carne - Julio Carvalho




























.......................................................

nude - Julio Carvalho











.......................................................

quarta-feira, 18 de maio de 2016

dos peregrinos...

.
"e as coisas parecem ver-nos,
se as estivermos amando."
Carlos Nejar
.
Foto de Rick Barneschi



































um poeta*
é um ser
sensível
sempre
peregrino
entre turista 
e peregrino
turista passeia 
e não se envolve
peregrino vive o lugar
perambula de outra forma
o turista está no lugar
o lugar habita o peregrino
assim como
a poesia habita
o poeta

*com Rick Barneschi

.............................................................


inbox

todo quarto fechado
me traz sensação 
de memória 
de coisa compartilhada 
entre quatro paredes
.............................................................

tempo da palavra
pesquisada
para o tempo da palavra
analisada
.............................................................

a construção do poema:
olhe para o lado de dentro
sem tirar os olhos de fora

.............................................................

há uma grande diferença 
entre ser sensível e ser romântico
o romântico enxerga as flores
o sensível enxerga além das flores
o romântico exalta o luar
o sensível se altera com a lua
o romântico se exalta num momento
o sensível se exalta o tempo todo
o romântico espera um jantar à luz de velas
o sensível espera a luz das velas 
o romântico espera o outro
o sensível está no outro
o romântico está 
o sensível é
.............................................................

eu oscilo
entre 
a tranquilidade 
e a invalidez
da razão
.............................................................