quarta-feira, 26 de setembro de 2012

das quedas...


.
“é até possível conhecer a verdade
mas a verdade te deixará furioso
Julio Carvalho
.

life
.

sinal vermelho

vivo cada dia como se fosse o último
mas estou muito cansado
realmente muito cansado

ser ou não ser?
esta é a pergunta
sempre foi
estamos todos tentando ser algo que não somos
nunca renunciamos  conhecer a nós mesmos
mas nunca poderemos nos negar para sempre
o tempo passa
e a gente acha que tem todo o tempo do mundo
mas o tempo passa
e quando se percebe que o tempo passou
no final a gente sabe que deveria ter feito alguma coisa
e a gente não acorda
mas sabe que terminou
pelo menos por enquanto
por esse minúsculo lapso de tempo
terminou
sonhamos em média vinte e sete vezes por noite
um complexo mecanismo de proteção neurológica
que nos faz esquecer
esquecer o que nos atormenta
o que te protege?
uma linha qualquer
um tênue espaço físico ou de memória?
qual a verdade então?
há apenas uma maneira de conseguirmos acesso a verdade:
ter intenções puras
se nossas intenções não são puras
pode por acabar a criar monstros
o que queremos realmente?
o que queremos descobrir tão de perto?
o que precisamos aprender?
que aprendizados desejamos?
em que acreditamos?
quantos de nós podem acreditar?
em que ou em quem acreditar?
quais as urgências e as indecências?
as coisas pornográficas
sujas pela falsa moral
o que é imoral?
o que é impostor?
o que é imposto sem perguntas?
o que é falso?
quais perguntas são válidas?
vorazmente exigimos luz
e acabamos num grito
o que queremos ver?
queremos ver?
existem cegos felizes e ignorantes felizardos
qual a consistência da sua inteligência?
qual o fogo da sua compreensão?
o que nos faz ser o que somos?
o que finalmente devemos aceitar?
o que nos faz acreditar?
a questão correta não seria
porquê estamos aqui
agora?
. 

terça-feira, 25 de setembro de 2012

das impaciências...


.
enquanto pode ser comunicado,
o desespero não mata.
@carpinejar
.
the real scream
.

impaciência

é tudo o que não acontece
o branco da minha camiseta
o excesso de pureza das horas
essa limpeza absurda
de nada
o cheiro nenhum
dos dias
o zero de espera nenhuma
não importa o que preencha
o espaço tem que ser consumido
.

dos pensados...


.
A sombra da realidade 
é uma questão de tombo de vista.
Julio Carvalho
.
transit
.

prezado cansaço

pesado cansaço
pensado cansado
pesando cansaço
pesado  cansado
pensando cansaço
pesando cansado
pensando cansado:
prensado

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

dos despertares...


.
“o poeta é esse coisa toda em mim
é essa coincidência
que eu existo”
Julio Carvalho
.
80 hand
.

REM
acordo areia e poesia nos olhos

o poeta não revela o oculto
o poeta não revela sua crença
o poeta não acredita em nada
talvez na palavra
objeto de cabeceira
única coisa que poderia acender a luz
da memória
e aprontar um poema
assim agora
no meio da noite
.

domingo, 23 de setembro de 2012

das tônicas...

.

"O lance do desejo não é se satisfazer. 
É desejar. 
Satisfeito, ele se torna rapidamente insatisfatório. 
Alimentado, o desejo sente ânsia de vômito. 
Tudo que ele quer é a fome mais uma vez. 
O desejo é só o de comer."
@GimCronica

.
.

"poemásculos
feminílicos
poeminos
machocados
femilíricas
machopéias
masculares
feminondas
poemeus
nos poeteus
machoetas
nas poêmeas"

@GimCrônica







tônicas:


escrever é sozinho e é portátil
.

o jardim da infância adulta 

tem antigos brinquedos quebrados 

e horas de brincar desencontradas
.

eu acho todo meio muito pornográfico
.

o poeta está morno
.

a poesia será convulsiva
.

nada a declarar só depois de morto
.

meu medo está torto
.

sábado, 22 de setembro de 2012

das ervas...


.
"Pensar é enloucrescer."
@GimCronica
.
found and lost
.
plantare

tenho em mim toda a ânsia
e toda a falta
do mundo
dizer é impossível
é um deserto
prefiro acatar as coisas simples
as que crescem depressa
entre as ervas daninhas
sem intervalo
não quero os vínculos nos muros
nem os galhos de trepadeiras
quero deixar de ser
sair
de perto
das voltas
de gente carnívora
a minha pele aprecia
a pedra firme
a pedra onde não se arrancam dores
sem nenhuma
explicação
tenho vícios de limo
.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

dos apertos...

.
"Apaga a luz do dia e vai" 
Wado 
.
  far away
.

para Erica Melo

quase tudo todo estamos todos 
quase toscos mas minimamente bem 
mas felizmente eu me adequo 
mesmo sem teto 
eu faço o que é certo 
por estar aqui por perto 
melhor estar com você

saudade é um aperto
saudade é um quase perto
.



intervalo augusta

dos exercícios...


.
“O tempo é a energia do silêncio. A vida também.”
Marcelo Ariel
.
windows
.
exercícios de imaginação

I

bom senso e verdade não são irmãos siameses
(parênteses de desejos amarelos)
falar é uma coisa projetada pelo ser 
e ser é um lugar
beleza é estética e não estatística:
- se desistíssemos da beleza, o que teríamos?
- o impossível vermelho
 do nada

II

ausência não significa silêncio
(os sons são autônomos)
a música do sonho são as coisas
as perguntas são as coisas
elas são poemas & perguntas

são angústias
.

dos escuros...

.

disambiguation

disambiguation

disambiguation


howling

howling


howling

  
.
shadows at night
.
sombra

a noite não é o que acontece
a noite é o que aparece
a noite se oferece
escura
sem iluminação de propósitos
para causar ilusão desmedida
a noite sente muito
porque não acompanha
o interior da gente
a noite é escura fora
enquanto dentro
é sobra de sonho
.



quarta-feira, 19 de setembro de 2012

das paciências...


 .
"Paciência abusada vira fúria."
 Thomas Fuller

.
tragicomedies_03tragicomedies_03
.

“The more you know who you are, and what you want, the less you let things upset you”
Lost in Translation


Pessoas em busca de respostas, motivos e propósitos. 
Pessoas que querem cativar e ser cativadas. 
Que querem ser entendidas e entender. Que querem ouvir. Ou falar. 
Sou eu e você. 
Pessoas na mais nobre de todas as buscas: o autoconhecimento.
Pessoas que começam a questionar a gravidade de suas vidas 
presas a uma rotina que, para elas, parece não mais fazer sentido. 
Pessoas que percebem que da realidade na qual estão inseridas 
querem desesperadamente sair, mas são consumidas 
por um sentimento de culpa e impossibilidade. 
Tudo isso acaba traçando um paralelo com o indivíduo 
e a sua inadequação ao mundo ao seu redor. Oremos.
.




terça-feira, 18 de setembro de 2012

dos organismos...


.
nudez
.
x hands
.
organismo 
há mistérios nascendo por cima das palavras

eu vi paredes retas e palavras tortas 
desentendi
preferi esburacar
a lingua não era importante
não incorporava
daí eu me atrapalhei
com as bocas de lobo
e as coisas do lodo
de fato
o apetite é de verbos
não do que se come
e sim do que se jejua
.

dos frascos...


.
"Os poetas não identificam Deus. 
Apenas se medem à sua plenitude oculta. 
A poesia é a medida do imenso" 
Nunes
.
auden
.

é mineral, por fim
qualquer corpo
que é mineral o sangue
escorrido 
a fria natureza
do corpo ferido

frascos

a poesia veste meus princípios e meus óculos

só peço algumas coisas retiradas de lágrimas
meu gozar é fazer poesia de pele exposta
não sou pop, sou off
o coração tem altares e lagartos
meu dia encalhou com carregamento de sóis
eu não odeio a crítica. odeio o julgamento
descubro o que acontece no espaço entre quadro e moldura
é anônimo o carnaval do poema
dias de ruínas de sapos e pedras
queria acreditar em Deus e em nada
ouso namorar a desativação para entender melhor coisa nenhuma
queria casar palavras feias com palavras bonitas e gerar filhos poemas
a poesia tem um dono em letras: o poeta
que os poetas possam refazer o mundo por imagens, por impulsos, por afetos
eu quero voltar à poesia do menos. quero desacontecer
.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

dos falatórios...

.
"Quando falares, cuida para que tuas palavras 
sejam melhores que o silêncio."
Provérbio Indiano
.
satisfashion
.
fatal falatorious


tanta gente que falatoa
tanta gente fala nada
como se a fala fosse moda e a fala é errada
tanta gente fala pouco de medo de falar burrada
tanta gente sofre muito por ficar calada
tanta gente indecente politicamente 
fala palhaçada
tanta fala e quase tudo dá em nada
então para que a fala
quando a coisa está complicada?
.

minha palavra
num acústico
é mudo
.

domingo, 16 de setembro de 2012

dos vômitos...


.
“o poeta que habitava em mim
se perdeu em algum lugar
entre meu coração e meu estômago...
temo até que tenha sido vomitado.”
@piugibson
.
 troque
.
parlenda

não se vomitam poetas
porque eles estão enroscados nas vísceras
são como pragas
ervas daninhas internas
não se aguentam
e forçam uma tal inspiração
que tudo sai de forma líquida
mas precisa
temo que o poeta seja algo mais que um enjoo
o poeta é um corpo
além do que se planeja
é um feto
.

sábado, 15 de setembro de 2012

dos delírios...

.
"Escrevo porque o papel é um órgão são.
Ele não julga.
Ele não nos observa como se fossemos loucos."
Julio Carvalho
.
delírio específico
.
delírio específico

as montanhas de coisas
acumulam
estados de sítio.
nas direções
procuram-se
os olhos verdadeiros
que vibram.
não se definem satélites
onde todos orbitam
confusos.
todo delírio
é um espaço final
onde qualquer viagem
se faz
em mínima
luz
.



sexta-feira, 14 de setembro de 2012

das montanhas...

.

"eu sou um ser montanhoso até os ossos 
- vivo me cercando para não precisar sofrer erosões..."
Julio Carvalho
.
poemístico
.

das questões...


.
“não é fácil decifrar a escrita com os olhos;
mas o poeta decifra com os seus ferimentos”
Adaptado de Franz Kafka
.
frasisfrasisfrasis
.
modo*

há palavras que vestem o meu corpo
e tecem fugas:

sangue
carne
mundo

e há palavras que de tão silenciosas
deitam nuas:
 ...."

*Adaptação de Mudo Convite de Raul Macedo por Julio Carvalho
.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

dos laços...

.
"O destino do homem como se assemelha ao vento. 
A alma do homem como se assemelha à água. 
Por que tanto tormento, tanta aflição? 
Morrer é só não ser visto. 
É preciso abraçar a volúpia.
Fartar-se de prazeres. 
Não ter medo da morte."
Goethe
.
old ear
.
laço

frio e dor são coisas muito próximas
eu tento passar pelas duas coisas incógnito
me entra nos ossos
é uma questão pessoal
eu finjo que essas coisas não me ofendem
talvez se emendem
porque são coisas
que tem a delicadeza de um punhal
.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

das velas...

.
"Um texto nada é sem alguém que o escreva, sem alguém que o leia. 
Ele não existe além do pensamento. 
Inventado e logo morto, à espera que a mente o reinvente, 
noutros olhos, noutro parecer. 
Nasce e morre tantas vezes, sempre que abro ou fecho um livro, 
de cada vez que te lembras ou esqueces alguém. 
Os textos nunca chegam a sair de dentro. 
Afloram a periferia, de boca em boca, olhos nos olhos, 
para serem de novo engolidos na abstração. 
Talvez por isso não façam sentido os direitos de autor, 
as ideias patenteadas, a sabedoria pessoal. 
 A ideia de que é possível separar uma parte do todo. 
O efeito da Causa. 
Um texto nunca se emancipará, coitado, por mais que tente. 
Podemos acreditar que sim, 
e isso é tudo o que ele necessita para pensar que existe. 
Pensar que andamos por aí."
DuArte 
.
  outra mira luzoutra mira luzoutra mira luz
.

facção

fogo
fogo
fogo
o que eu direi do fogo
da arte do fogo que me consome
do resto de mim até o sexo
eu faço um apelo
que a memória cause o seu próprio incêndio

(aqui na medula onde nasceu esse espinho de memória)

seja esse o veredito
pelo ódio que me arrasta
que o outro lado da memória se apague
que seja tudo remendado no sopro das cinzas
que se torne cinza
as cinzas de tudo arremessado
à fornalha do meu corpo
amém

...daí então um anjo nasce feito cicatriz
.